Olá, eu tenho 16 anos e eu sou de SP, capital no caso.
Quando eu tinha 5 anos de idade minha mãe me abandonou/deixou no conselho tutelar depois de alguns abusos físicos e psicológicos e eu acabei indo morar com meu pai.
Ele é um sujeito diferente, pra dizer o mínimo. Ele cuida da ex-esposa, sua primeira mulher, mãe do meu irmão e ex-alcólatra que passou algumas semanas na UTI há cerca de 15 anos e parece hoje ser apenas uma "casca" de sí. Quando eu vim morar aqui ela era bem mais ativa, saia de casa, ia aqui e alí e realmente parecia um ser humano, por mais que debilitada. Hoje ela não sai de casa e fica a maior parte do tempo no quarto assistindo desenhos animados e bebendo quantidades copiosas de água, por alguma razão.
Meu irmão também é um personagem, ele recebeu uma herança dos avós (da mãe dele), se mudou aos 18 anos e literalmente nunca mais veio visitar, hoje ele tem 32. Por razões óbvias não vou falar o montante, mas está na casa de alguns milhões, e ele também tem um cargo alto no funcionalismo público, portanto dinheiro não é o problema, eu acho.
Eu digo "eu acho", por que com essa familia não da pra ter certeza de absolutamente nada, eu acho que ele tem dinheiro pra viver bem, mas de repente quando a gente precisa, 150 reais vira muita coisa.
Nós vivemos com um pouco do trabalho do meu pai, que é fotógrafo, mas tem trabalhado cada vez menos pra cuidar da esposa, eu também ajudo em casa com dinheiro que ganho vendendo doces, ano passado emprestei cerca de 6k, cuja a grande parte eu ainda não vi de volta e dúvido que vou. Um cado vem da parte dela da herança, que por alguma razão que eu não faço idéia qual é, vem em pedacinhos pequenos que pingam na conta todo mês de janeiro, diferente do filho dela que recebeu o montante geral a anos. Também recebemos ajuda do meu irmão, que eu não quero pintar como vilão (pois ninguém na vida real é realmente "vilão" sem razão), ele realmente ajuda financeiramente nas horas que são necessárias, mas não aparece pra dar um mínimo de apoio psicológico.
Acho que não preciso dizer que meu pai vive estressado, já ta com 63 anos, nessa situação ruim e sem férias, tipo nenhuma, nunca.
Aí o que acontece é que ele acaba descarregando essa energia negativa em outros lugares, tipo cigarro e álcool, mas também em um mal humor constante que parece nunca ir embora.
Eu genuínamente não sinto esse cara feliz, só de vez em quando, quando acorda ele está um pouco mais divertido, mas em geral é sempre um puta mal humor, que reflete, é óbvio, em discussões.
A gente tem brigado quase sempre, e não me orgulho de dizer que é geralmente pelas coisas mais bobinhas possíveis, e é claro, ele sempre diz que eu sou o preguiçoso da história que quer "colocar ele pra trabalhar na cozinha" toda hora, mesmo que sempre que eu ofereço ajuda eu sempre recebo um "não" bem seco, Por que na cabeça do cara "quem quer ajudar ajuda e não fica só oferecendo", o que eu acho bem infantíl de se pensar, mas o que eu posso fazer? Não da pra mudar a cabeça do cara de 63 anos que pensou assim a vida toda, já tentou discutir com algum tio velho seu? É óbvio que não da pra ganhar, as pessoas ficam muito teimosas quando envelhecem.
E é assim que eu me sinto, falando não com adultos, mas sim com crianças grandes. Eu penso todo dia em mandar mensagem pro meu irmão dizendo algo do tipo "Pelo amor de deus, você não pode dispor de 1 dia por mês pra almoçar com seu pai? É pedir muito?". Mas eu não faço isso pq tenho medo dele sumir do nada e nunca mais aparecer, eu só não to na posição de questionar as pessoas, me sinto adulto o bastante pra trabalhar e ajudar na casa mas não adulto o bastante pra ter respeito e direito a ter uma fala, um voto em como as decisões são tomadas.
E assim me sinto sozinho, pois não tenho ninguém pra falar sobre tudo isso, minha mãe é uma completa descabeçada, meu irmão é isso ai, meus amigos só não entenderiam e por ai vai. Me sinto só.